A loucura tornou‐se, no contexto do jogo de linguagem dos autores de Orpheu e da sociedade que os rejeitou, numa explicação para o mergulho na marginalidade literária, linguística e até social, de uma forma que excluía particularmente os comportamentos burgueses.
Os leitores de Sá‑Carneiro encontrarão esta loucura como tropo preferido para denotar a inadaptação própria da experiência da modernidade estética e como pano de fundo a uma retórica muito própria, altamente auto‐irónica e performativa, em poemas como aqueles para os quais Sá‑Carneiro considerou mesmo o título Colete de Forças, mas em muitos outros também. Tinha por isso razão Fernando Pessoa, ao falar do «homem são louco» a propósito do seu amigo.
Passados cem anos sobre o suicídio do autor de Dispersão, a exposição «Mário de Sá‑Carneiro, “o homem são louco”», convida à leitura da obra deste escritor e serve de introdução panorâmica à mesma.
Mário de Sá-Carneiro O Homem São Louco
Passados cem anos sobre o suicídio de Mário de Sá-Carneiro, um dos mais decisivos renovadores da literatura de expressão portuguesa do século XX, a exposição «Mário de Sá-Carneiro, “o homem são louco”», que aproveita para o seu título a forma como Pessoa se referiu ao seu amigo e espírito contemporâneo, convida à leitura da obra deste escritor e serve de introdução panorâmica à mesma.
Retrato na capa do catálogo e em cartaz | Júlio Pomar − Retrato de Mário de Sá-Carneiro. 2014-2015. Acrílico, pastel e carvão sobre tela. 81 × 65 cm (Coleção particular).
Vitrina 1: Publicações em vida | As primeiras edições dos livros publicados pela mão de Mário de Sá-Carneiro, entre 1912 e 1915, desde a peça de teatro Amizade, escrita em colaboração com Tomás Cabreira Júnior, até Céu em Fogo. Destaque-se o exemplar de Dispersão com a sua capa original, hoje raro. Inclui-se ainda a reprodução de uma dedicatória inédita de um exemplar de A Confissão de Lúcio à Redação da revista A Águia, datada de 20 de novembro de 1913, e de uma dedicatória inédita de Céu em Fogo a José Coelho Pacheco, de 20 de maio de 1915.
Vitrina 2: Publicações na primeira metade do centenário da morte | A primeira edição (póstuma) de Indícios de Ouro, preparada por Fernando Pessoa, bem como outros volumes que primeiro fomentaram um conhecimento mais abrangente de Mário de Sá-Carneiro. É o caso da primeira edição da correspondência com Fernando Pessoa publicada pela Ática, ou, no Brasil, da recolha da poesia de Mário de Sá-Carneiro por Cleonice Berardinelli.
Vitrina 3: Publicações na segunda metade do centenário da morte | Núcleo de edições de correspondência, poesia e prosa altamente relevantes nomeadamente pela divulgação, em várias delas, de uma grande quantidade de inéditos, como nos casos dos volumes editados por Arnaldo Saraiva, Fernanda Toriello, François Castex e Marina Tavares Dias. Estes inéditos reportam-se não só à obra adulta de Mário de Sá-Carneiro como também à sua juvenília.
Vitrina 4: Correspondência | Correspondência trocada sobretudo entre Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, desde o primeiro postal conhecido, uma «carte postale» ilustrada com o Arco do Triunfo e os Campos Elísios, de 16 de outubro de 1912. A seleção assinala correspondência enviada a partir de diferentes locais, como Lisboa, Paris e San Sebastián, e ainda alguns ecos das vanguardas parisienses nesta epistolografia, com um postal caligramático. Inclui-se não só uma carta de Fernando Pessoa como a primeira referência conhecida ao Livro do Desassossego, numa anotação de Fernando Pessoa indicativa do conteúdo de uma sua resposta, datada de 27 de janeiro de 1913. A vitrina apresenta ainda um postal inédito de Mário de Sá-Carneiro a José Pacheco, que terá sido redigido no contexto da produção de Orpheu.
Vitrina 5: Prosa | Manuscritos e impressos da ficção de Sá-Carneiro, que incluem quer cópias autógrafas do acervo da BNP, como as duas versões de «O Homem dos Sonhos» e os rascunhos de «Asas» e «A Grande Sombra», quer textos publicados na imprensa, como «O Sexto Sentido». Ainda nesta vitrina inclui-se um exemplar de Lucio’s Confession, livro com tradução por Margaret Jull da Costa e introdução de Eugénio Lisboa, que aqui assinala a publicação das obras de Mário de Sá-Carneiro no estrangeiro.
Vitrina 6: Poesia | Cópias autógrafas de poemas da fase adulta, incluindo obras do conjunto de Dispersão e poemas para Indícios de Ouro, bem como textos incluídos na correspondência e não originalmente indicados para um volume específico. Todos os documentos foram remetidos a Fernando Pessoa e integram o seu arquivo. Destaque-se ainda o caderno de «Versos p[ar]a os “Indicios de Ouro”», E3/154, remetido por Sá-Carneiro a Pessoa poucos dias antes de se suicidar.
Vitrina 7: Orpheu | Correspondência de Mário de Sá-Carneiro com Fernando Pessoa relacionada com a revista Orpheu, desde a sua concepção à decisão de a suspender. O núcleo inclui também não só um exemplar de Orpheu 1 como também dois cadernos de recortes de imprensa sobre a revista recolhidos por Mário de Sá-Carneiro e depois por Fernando Pessoa.
Vitrina 8: Miscelânea | Documentos diversos relacionados com a vida de Mário de Sá-Carneiro, desde referências ao seu universo familiar, a uma sua carta astrológica preparada por Pessoa, passando ainda por uma carta enviada por Raul Leal e por duas fotografias inéditas tiradas num Posto Antropométrico, hoje integrantes do Arquivo Histórico Fotográfico do Museu da Polícia Judiciária. Assinalando o centenário da morte de Sá-Carneiro, reproduzem-se várias notícias da mesma, em Portugal e França, com a particularidade de em ambos os países se associar o autor ao Futurismo.
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