Mário de Sá-Carneiro Online

 

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56. Lisboa, 8 Fev. 1914

Viva o Paúlismo!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

57. Lisboa, 25 Fev. 1914

Em todo o caso até ás 10 horas encontra-me a pé, por via da "Ressurreição".

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

58. Lisboa, 28 Fev. 1914

Grande abraço do seu confrade em Alem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

59. Lisboa, 20 Mar. 1914

espera-lo-hei em ansia dourada

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

60. Paris, 8 Jun. 1914

Apenas, em Ouro um grande Abraço

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

61. Paris, 12 Jun. 1914

Então o Santa-Rita, sabe, foi hoje não obstante procurar -me ao Hotel […] O mesmo fato e bonet — como o Pacheco a outro dia contava — todo esculpido em trapo — e a voz a mesma e todo o corpo tremia — mas numa tremura onde havia o seu quê de bamboleamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

62. Paris, 15 Jun. 1914

Gente conhecida — Estive antes de ontem chamado pelo Pacheco na Closerie á meia noite. Que horror meu amigo! Que horror!... Perto de nós havia um grupo português... Ah! mas portugueses carbonarios, da Brasileira, meu amigo, da Brasileira!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

63. Paris, 23 Jun. 1914

As minhas sinceras felicitações pelo nascimento do Ex.o Sr. Ricardo Reis por quem fico ansioso de conhecer as obras que segundo me conta na carta repousam sobre ideias tão novas, tão interessantes e originais — e sobretudo grandes porque são muito simplesmente do Fernando Pessoa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

64. Paris, 27 Jun. 1914

Muito interessante o enredo Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Alvaro de Campos (devo dizer -lhe que simpatiso singularmente com este cavalheiro). Acho-a perfeitamente maquinada, soberba — mas entretanto será bom não nos esquecermos que toda essa gente é um só: tão grande, tão grande... que, a bem dizer, talvez nem precisasse de pseudónimos...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

65. Paris, 28 Jun. 1914

O Pacheco vai p[ar]a Lisboa m[ui]to breve (mas não diga a ninguem) e já combinámos para arreliar os carbonarios contar m[ui]tas blagues a meu respeito e, sobretudo dizer q[ue] nado em dinheiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

66. Paris, 28 Jun. 1914

— Apoteose — Mastros quebrados, singro num mar d'Ouro Dormindo fogo, incerto, longemente... [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

67. Paris, 30 Jun. 1914

Não sei em verdade como dizer -lhe todo o meu entusiasmo pela ode do Al[varo] de Campos que ontem recebi. É uma coisa enorme, genial, das maiores entre a sua Obra — deixe -me dizer-lhe imodesta mas m[ui]to sinceramente: do alto do meu orgulho, esses versos, são daqueles que me indicam bem a distancia que, em todo o caso, ha entre mim e você. [...] Meu amigo, pelo menos a partir d'agora o Marinetti é um grande homem...

 

 

 

 

 

 

 

 

68. Paris, 3 Jul. 1914

Apenas lhe direi que o Cravan faz proximamente uma conferencia em seu beneficio aonde p[ara] exemplificar as suas teorias dançará e boxará.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

69. Paris, 5 Jul. 1914

Continuo a dizer, meu amigo, que as produções do Alvarozinho vão ser das coisas maiores do... Pessoa. Europa! Europa (revista) é que é preciso sobre tudo!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

70. Paris, 11 Jul. 1914

Estupores, lepidopteros os livreiros!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

71. Paris, 13 Jul. 1914

[O Santa-Rita] Veio-me pedir para eu arranjar um editor p[ar]a a tradução portuguesa dos manifestos do Marinetti (livro "Le futurisme" e os ultimos trabalhos). Pedido — disse — feito em nome do Marinetti. Para ser amavel escreverei a qualquer livreiro daí que dirá que não...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

72. Paris, 18 Jul. 1914

Recebi ontem a sua carta que muito agradeço. Gostaria muito, se fosse possivel, conhecer o que sobre mim (e sobretudo o interseccionismo e Caeiro & C.a) o mano Reis escreveu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

73. Paris, 20 Jul. 1914

Você tem razão, que novidade literaria sensacional o [43ar] aparecimento em 1970 da Correspondencia inédita de Fernando Pessoa e Mario de Sá -Carneiro — publicada e anotada por... (perturbador misterio!).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

74. Paris, 27 Jul. 1914

Lembrou-me agora, de subito, ao entrar p[ar]a casa q[ue], nesse volume, cabe tambem, pode ser, "O Mundo Interior" tratado doutra maneira [...].

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

75. Paris, 28 Jul. 1914

A proposito do Pessanha: logo que puder, mas logo, rogo-lhe m[ui]to que me envie os versos a q[ue] alude. Fico ansioso por eles. E pedia -lhe, mais uma vez abusando, que, quando tiver vagar, me envie uma cópia do soneto á mãi — e mesmo doutras coisas q[ue] eu já conheço, pois é para mim um grande prazer reler esses admiraveis poemas! Ai a Europa! a Europa! como ela seria necessaria!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

76. Paris, 1 Ago. 1914

Escrevo -lhe numa hora terrivel — meu querido Amigo. Para o mundo — para a Europa — e mesmo, pessoalmente, para mim: para nós todos...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

77. Paris, 6 Ago. 1914

Não sei se partirei. Por agora não posso. Não ha nenhuns comboios. Mas prefiro ficar. Conto mesmo ficar, malgré tout.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

78. Paris, 6 Ago. 1914

Horas de inquietação zigzagueada as que vivo — mas de inquietação de mim proprio. Emtanto talvez de mim proprio: como um pedaço de Europa [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

79. Paris, 10 Ago. 1914

Tenho recebido correspondencia de Lisboa e até do Guisado. Mas nada seu!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

80. [Paris, 15 de Ago. 1914]

avez reçu argent = carneiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

81. Paris, 17 Ago. 1914

É muito possivel, mesmo certa, a minha proxima partida para Lisboa!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

82. Paris, 20 Ago. 1914

Isto duma insipidez infame; uma vida chata, provinciana (ó pasmo) bem pior do que a de Lisboa. Paris da provincia — e não Paris da Guerra como eu escrevia outróra... Ao mesmo tempo o meu pai, de Lourenço Marques, escreve -me que as ruas lá são asfaltadas...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

83. Paris, 24 Ago. 1914

Uma resolução subita, nascida esta manhã ás 6 horas, e logo posta em pratica: parto para Barcelona!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

84. Paris, 25 Ago. 1914

Ultimos écos de Paris!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

85. Toulouse, 26 Ago. 1914

Resvalo Europa!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

86. Toulouse, 26 Ago. 1914

Ainda um postal de Toulouse após ter visto desfilar centenas de soldados feridos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

87. Paris, 27 Ago. 1914

No compartimento ao lado do meu, sempre de barretinho de penhorista, descobri agora que faz viagem Mestre Guerra Junqueiro [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

88. Barcelona, 29 Ago. 1914

Barcelona, detestavel quanto a figuração. Nesse sentido terra de provincia, lepidoptera, só a subgente. Mas belas avenidas e edificios.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

89. Barcelona, 30 Ago. 1914

Agora que tomei contacto malfadadamente com a Espanha ainda a abomino mais do que antes. País de empata, aonde enviar um telegrama é uma epopeia e aonde os policias usam bengala, capacete branco e casaco carmezim. Um horror! Um horror!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

90. Barcelona, 1 Set. 1914

[Ribera I Rovira] Hoje levou -me a ver a catedral em construção da Sagrada Familia Meu Amigo é — Uma Catedral Paúlica — Sim! Pleno paülismo — quasi cubismo até.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

91. Barcelona, 4 Set. 1914

Pelo mesmo correio mando -lhe um jornal de Bilbau, com artigos em basco. Repare-me para esse idioma, e diga-me se não dá bem a impressão duma lingua Outra. É perturbador e misterioso — lingua antiquissima, de origens ignoradas, d'alem-civilisação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

92. Barcelona, 5 Set. 1914

É verdade: recebeu um postal meu de Perpignan em que lhe anunciava a descoberta do Guerra Junqueiro no compartimento ao lado do meu?... Que figuras que êle fez ali na estação durante um quarto de hora!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

93. Barcelona, 6 set. 1914

Mas não avise ninguem da minha chegada. Absolutamente ninguem. Você, se lhe fôr possível, esteja na estação. Mas só você.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

94. Barcelona, 6 Set. 1914

Aqui vai a catedral-paül!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

95. Barcelona, 7 Set. 1914

Outra vista da Catedral paül [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

96. [Barcelona, 7 Set. 1914]

arriverai mercredi train quatorze 45 secret .

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

97. Barcelona, 7 Set. 1914

Ultimos écos de Barcelona!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

98. 12 Set. 1914

Portanto como hoje você não apareceu — na segunda -feira espero-o no mesmo local.

 

99. Lisboa, 14 Set. 1914

Esperei-o em vão no Café da Arcada.

 

100. [Set. 1914]

Esperei-o, meu querido Pessoa até ás 6.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

101. [Set. 1914]

Estou hoje em Lisboa, meu Querido Amigo — e tenho "A Grande Sombra" concluida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

102. Camarate, 6 Out. 1914

É verdade: não escrevo a "Elegia" para o Ceu em Fogo... Guardo-a para outro livro: por que não estou em disposições de a escrever agora — e seria grande — e grande já o livro está. Escreverei só mais um conto, pequeno, para êle: "Asas", talvez — que está mesmo mais de acordo com o "ar" Europeu do livro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

103. Camarate, 7 Out. 1914

Não são Rôxos – são Borrechos – e o Valerio é Francisco […]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

104. Camarate, 8 Out. 1914

Porque é que em vez do postal me não enviou o n[umer]o da Restauração! Só com um livro do Julio Dantas na ideia do seu rosto!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

105. Camarate, 17 Out. 1914

Se não chover, meu querido Amigo, estarei depois de amanhã, segunda -feira 19, no Martinho, á tarde, entre as 3 horas e as 3½.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

106. Camarate, 18 Out. 1914

Em todo o caso amanhã lá estarei no Martinho, entre as 3 e as 3½. Surja!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

107. Camarate, 21 Out. 1914

Peço -lhe, meu querido Amigo, que na volta do correio me envie a tradução da coupure que vai juntamente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

108. Camarate, 23 Out. 1914

Meu querido Amigo — um ótimo serviço de traduções!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

109. Camarate, 28 Out. 1914

"Asas" e três poesias um tanto lepidopteras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

110. Lisboa, 29 Out. 1914

Então, meu querido Amigo — é verdade, onde móra Você agora?...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

111. [30 Out. 1914]

Confirmada carta sabado 5 horas martinho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

112. Lisboa, 31 Out. 1914

Você nada!... Agora só a telegrafia sem fios — mas não creio que seja mais rapida que a outra — embora a mais em voga.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

113.

Peço -lhe a tradução, meu querido Amigo, tão breve quanto os seus negócios e códigos lho permitirem, das coupures juntas. Mera tradução avulsa — só para eu saber que dizem tais noticias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

114. Lisboa, 18 Nov. 1914

Meu querido Fernando Pessoa o Augusto de Santa Riata falou-me hoje que tinha falado a Você a pedir-lhe os pederastismos do Apollinaire na Semaine de Paris [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

115. Lisboa, 2 Dez. 1914

Ha o seguinte: ontem o Ruy Coelho e o Dom Tomás lembraram-se de fazer uma sessão de musica moderna sobre paülismo: poesias minhas, suas e do Guisado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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