Mário de Sá-Carneiro Online

 

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190 Paris, 8 Jan. 1916

Mas leia essa admiravel, essa genial carta do Carlos Franco que envio juntamente e você me devolverá — sem pressa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

191 Paris, 13 Jan. 1916

O Sá -Carneiro está doido. Doidice que pode passear nas ruas — claro. Mas doidice. Assim como o Angelo de Lima sem gritaria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

192 Paris, 21 Jan. 1916

Assunto da m[inha] proxima carta: a) "compendio teosofico"1 b) Santarritana2 c) Carlos Franco d) comissão Carlos Ferreira e) "Novela Romantica": novos detalhes do desenvolvimento f) noticias gerais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

193 Paris, 26 Jan. 1916

Francamente é inadmissivel, meu querido Amigo, o seu procedimento. Não ha razão nenhuma que o explique: fisica ou chimica, moral, social ou febril ou fabril.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

194 Paris, 30 Jan. 1916

Ontem tivemos por cá os balõizinhos imperiais — num bairro que lhe não posso dizer, nem isso o interessa, mas — sossegue — m[ui]to longe do meu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

195 Paris, 1 Fev. 1916

A resposta será de resto uma carta extensa e um mau soneto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

196 Paris, 3 Fev. 1916

Vai junto um soneto. Nasceu como "O Fantasma". Aquilo ou fica tal e qual assim, estapafurdio e torcido — ou se deita fóra. Eu não sei nada. Por isso o meu querido Fernando Pessoa não se esqueça de me dizer do valor do estaferminho — e se o hei de ou não aproveitar p[ar]a os Indicios de Oiro, "Colete de Fôrças", claro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

197 Paris, 5 Fev. 1916

Estanislau será um fantasma ás avessas: o fantasma duma criatura que ainda não nasceu: o fantasma dos herois de novelas duma nova arte ainda não nascida: o fantasma, em suma, de Inacio de Gouveia, de Ricardo de Loureiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

198 Paris, 8 Fev. 1916

Uma carta rapida p[ar]a — sobretudo — lhe enviar uma coisa extraordinaria do Raul Leal que ontem recebi. Leia essas paginas, que chegam a ser belas, mas que são terriveis — um pesadelo sem sôno, qualquer coisa de alucinante e miseravel, de pôr os cabelos em pé.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

199 Paris, 16 Fev. 1916

Agora porem o que estou é muito interessado na confecção dum poema irritantissimo, "Feminina" — que comecei ontem á noite, quando me roubaram o chapeu de chuva.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

200 Paris, 18 Fev. 1916

A Zoina silva sobre mim despedaçadoramente. Fiz ontem um disparate sem nome: como se rasgasse uma nota de mil francos [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

201 Paris, 19 Fev. 1916

Você não fale a ninguem da m[inha] possivel (mas ainda improvavel) partida p[ar]a Lisboa. Tanto mais q[ue], em tudo isto, ha uma perturbadora historia de cartas que dizem que eu não parto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

202 Paris, 21 Fev. 1916

Isto ha de ter uma solução qualquer. Não nada de factos — claro — é tudo disturbio pela alma... e bolsa!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

203 Paris, 22 Fev. 1916

Tudo isto porem ha de ter um fim — e eu pergunto-me que lugar irei preencher nesse fim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

204 Paris, 26 Fev. 1916

Hoje não lhe posso dizer mais nada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

205 Paris, 29 Fev. 1916

Acho excelente ideia antologia sensacionista. Assim houvesse quem a editasse. Mas porque não, abrindo, uma "noticia" sobre a escola — calma e friamente, sem blague, feita?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

206 Paris, 5 Mar. 1916

Encarregue-se de tudo, combine tudo com a m[inha] Ama: contanto que o dinheiro me seja enviado o mais breve possivel. O meu Avô só em ultimo caso deve ser posto a par disto [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

207 Paris, 7 Mar. 1916

Siga á risca as m[inhas] instruções: chéque telegrafico Crédit Lyonnais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

208 Paris, 15 Mar. 1916

Não sei nada. Não se assuste em todo o caso nem deixe de se assustar. Cá irei. Não tenha medo, juro-lhe.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

209 Paris, 24 Mar. 1916

Atapetemos a vida Contra nós e contra o mundo...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

210 Paris, 31 mar. 1916

A menos dum milagre na proxima 2.a feira 3 (ou mesmo na vespera) o seu Mario de Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estricnina e desaparecerá deste mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

211 Paris, 3 Abr. 1916

Mandei-lhe ontem o meu caderno de versos mas sem selos. Peço -lhe q[ue] faça o possivel por pagar a multa se êle2 aí chegar. Caso contrario, não faz grande diferença pois você tem todos os meus versos nas minhas cartas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

212 Paris, 4 Abr. 1916

Sem efeito as minhas cartas até nova ordem [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

213 Paris, 4 Abr. 1916

bien – carneiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

214 Paris, 4 Abr. 1916

Arranjou -me tambem dinheiro p[ar]a mandar novo telegrama ao meu Pai — e em suma até receber a resposta será ela que — não sei como: isto é: demais o sei... — me arranjará o dinheiro. Veja você que coisa tão contraria á minha "sorte", á minha psicologia... Agora já não é blague se se disser que eu vivi á custa duma mulher...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

215 Paris, 17 Abr. 1916

O dinheiro não é tudo. Hoje, por exemplo, tenho dinheiro. Mas você compreende que vivo uma das minhas personagens [...]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

216 Paris, 18 Abr. 1916

Não sei nada, nada, nada. Só o meu egoismo me podia salvar. Mas tenho tanto medo da auzencia. Depois — para tudo perder, não valia a pena tanto escocear.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

217 Paris, 26 Abr. 1916

Um grande, grande adeus do seu pobre Mario de Sá-Carneiro

 

 

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